12.17.2012

OK, Me Rendo




     A obra proposta é indissociável do processo que me trouxe até aqui. Em 2010 começei a pesquisar as relações homem x aparelho lançadas por Flusser. Como alforriar o homem da máquina? Como modelar o aparelho ao uso humano e não o contrário? Ir para além da programação. Em 2010 desenvolvi a Série Contra-Aparelho constituída por diversas fotografias construídas a partir de sobreposições possíveis a partir da rebobinação da película e da queimada do fotograma em dois tempos de 50% cada. O resultado são imagens inteiras construídas por duas metades, por duas tomadas, a partir de uma metodologia que vai para fora  da programação prevista na minha então Zenit DF300. Em 2011, materializei a instalação Homem Dentro do Aparelho se Fotografa, que integrou a XX Mostra CCBEU Primeiros Passos. A obra é constituída de 20 fotogramas que compõe uma unidade onde surgi um homem em posição fetal. Este homem sou eu, e os fotogramas gravam um auto retrato. Eu, por mim mesmo, na metáfora aberta e possível do aparelho fotográfico moderno, a sala preta do laboratório, uma luz incandescente e superfícies foto-sensíveis.
    Ambas experiências citadas se inserem num jogo contra aparelho, contra a tecno-ciência dominante, esmagadora das poéticas marginais terceiro mundistas, e que muito provavelmente, tem sido o fator que tornou a fotografia a boneca dos olhos dos salões e da arte contemporânea. Falo aqui de mercado, da tecnologia fetichizada com o único objetivo de aceleração do ritmo de consumo, da geração de mais valia. Há que se vender novos aparelhos. Essas duas poéticas citadas tratam, a partir de um retorno, da subversão, da não aceitação do ato fotográfico como jogo puro e simplesmente, onde o único objetivo é o esgotamento da programação do aparelho-máquina. O trabalho aqui proposto é diferente. Ele nasce nesse processo ao mesmo tempo que propõe um encerramento simbólico aquilo que não tem fim. Talvez uma trégua. Possivelmente uma homenagem. Uma Ode ao cubo mágico que tanto me faz pensar. OK, Me Rendo, Dom Quixote cansou de lutar contra os moinhos. Vai lutar agora em outras trincheiras, nessa, na trincheira do campo da arte, dos salões, das galerias, me retiro. “Mas não deixo de querer conquistar, uma coisa qualquer em você...”.
    O que será é o que é. Esta instalação é composta por 9 fotografias digitais produzidas a partir da conhecida, aclamada e já batida técnica “light Paint” ou pintura de luz, popularizada justamente a partir destes aparelhos injetados no contemporâneo pela tecno-ciência. É uma técnica que se não surgiu com a tecnologia digital, ganhou nome e corpo a partir dela. Muito se fez, talvez pouco tenha se pensado. Longe de esgotar a questão, tento me aproximar ou afastar de um possível problema. Tal técnica é filha da câmera fotográfica digital, e é dela, ou melhor, dele, do aparelho fotográfico contemporâneo que falo por meio da sua técnica mais particular, talvez a mais nova, sem dúvida a mais cool.

hug 10.04.2012

Esta obra integrou a 4ª ed do Salão SESC Universitário de Arte Contemporânea. 

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